A morte de Juliana e a omissão que também mata

Juliana tinha 26 anos. Era publicitária, mochileira, brasileira.

Estava na Indonésia, em busca do nascer do sol no alto de um vulcão.
Durante uma trilha no Monte Rinjani, escorregou e despencou cerca de 500 metros.
Sobreviveu à queda. Foi vista com vida por drones. Acenava. Pedia socorro.

Esperou quatro dias.
Morreu.

A versão oficial fala em neblina, terreno íngreme, dificuldades técnicas.
A família fala em abandono.

A diferença entre as versões talvez esteja no tempo que se perdeu.
E na omissão que ficou.

Quando o luto não basta

Tragédias como essa não terminam com o luto. Elas levantam perguntas.
Quem responde por isso?

O guia?
A empresa de turismo?
O Estado que demorou?

O Direito não tem todas as respostas, mas tem critérios: dever de cuidado, responsabilidade civil por prestação de serviço, e — em casos extremos — apuração de eventuais omissões penalmente relevantes.

Em atividades de risco, como o turismo de aventura em montanhas e vulcões, a exigência de planejamento, suporte técnico e resposta rápida não é opcional. É parte da obrigação.

Quando a assistência falha, a responsabilidade não desaparece:
ela só troca de nome.

O que realmente nos protege?

Vivemos tempos de fronteiras abertas. E muitos destinos vendem experiências inesquecíveis — mas sem oferecer respostas em caso de tragédia.

Turismo de aventura não é só paisagem. É contrato. É risco calculado.
E quando o cálculo falha, alguém tem que assumir o resultado.

Não é sobre culpar o imprevisível.
É sobre agir com preparo. E responder quando não se age.

E a omissão que também mata

Talvez Juliana só precisasse disso: de alguém que não explicasse — fizesse.
Porque há momentos em que o que falta não é helicóptero, nem tecnologia. É decisão. É gente.

Em outra tragédia que marcou este país — a da boate Kiss — também ficou claro como certas falhas, antes mesmo do desastre, podem custar vidas.
São histórias diferentes, mas unidas por uma mesma dor:
o que poderia ter sido evitado — e não foi.

Por Marcelo Mendes Arigony
Professor. Doutor. Delegado de Polícia por 25 anos. Hoje, advogado.

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